sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Professor Dr. Trigo: Previsões de ano novo

Por: Luiz Gonzaga Godoi Trigo Hôtelier News

Não tem nenhuma previsão. Ninguém sabe o tamanho e extensão da crise global, o valor dos papéis podres perdidos na insanidade das especulações irresponsáveis das bolsas de valores, o que há nas bolsas das mulheres desesperadas, o rombo das financeiras ensandecidas, das imobiliárias desalojadas e das lojas de preservativos perfumados. Aliás, ninguém previu a internet, o 11 de setembro (aquele, de 2001), os desastres econômicos atuais e os ótimos índices de aprovação do presidente brasileiro. Os que previram alguma coisa erraram na medida e eles próprios perderam dinheiro na farra. Claro, alguns ganharam, mas também não previram - com aquela certeza - que iam ganhar tanto. Os analistas, economistas, gurus, consultores e autores de livros de auto-ajuda passaram ao largo da história. A revista Exame do início de dezembro (2008) fez uma reportagem de capa sobre esses fiascos das previsões furadas. Ela sabe do que fala. Em sua edição de 16/07/2008, na página 116, a manchete era: "Esta é a hora de comprar". De comprar ações, porque a bolsa se recuperaria, de acordo com as análises das 13 crises passadas, desde a década de 1980. Aí a bolsa caiu uns 50% e quem acreditou sifu (se o presidente pode falar assim, eu também posso e o termo é apropriado à situação).

O apresentador de TV Jim Cramer errou, os bancos erraram (o Itaú, por exemplo, previu, no início do ano que a bolsa chegaria a 70 mil pontos em dezembro), o Arjun Murti, da Golden Sachs, previu que o barril de petróleo atingiria entre US$ 150 e 200, também em dezembro. A Agrenco quase quebrou, as 21 empresas do setor imobiliário brasileiro que abriram o capital viram suas ações se desvalorizarem até 70%, bancos faliram pelo mundo afora, o governo norte-americano enfiou dinheiro nas empresas arrebentadas pela crise e as montadoras de automóveis nos Estados Unidos estão à beira de uma falência, essa sim, anunciada, porque são historicamente incompetentes e perderam mercado para os japoneses. Quer qualidade em um carro, nos Estados Unidos? Compre Toyota ou Honda. O que não livra o Japão de uma nova crise, onda de falências e desespero dos idosos que veem suas economias derreterem em um país onde tudo custa os olhos da cara e as válvulas do coração.

O Alan Greenspan publicou, em 2007, seu volumoso livro A era da turbulência, que chegou às livrarias por R$ 70. Ontem estava por R$ 42,50 em alguns sites e com entrega imediata. Greenspan errou feio na previsão espúria de que o mercado se auto-regularia e pediu desculpas. Bush disse ter sido induzido ao erro por analistas que afirmaram haver armas de destruição maciça no Iraque e perdeu as eleições (graças a Deus). Os diretores financeiros da Sadia, Vicunha e Aracruz perderam mais de 2,5 bilhões de dólares de suas empresas e pediram desculpas. Por outro lado, Nouriel Roubini acertou suas previsões de catástrofe e Paul Krugman ganhou o prêmio Nobel da economia por analisar corretamente as nuances econômicas, que é uma ciência social e não uma ciência exata, como querem os defensores do "núcleo duro das ciências". Dois ganhadores em meio ao caos. O resto... sifu.

O que esperar de 2009? Não sei os detalhes, mas lembro claramente lições antigas do português da padaria: o que entra é receita, o que sai é despesa. Ou a frase do saudoso amigo José Matias, diretor da Abreutur São Paulo em seus anos dourados: "rico é aquele que gasta um pouco menos do que ganha", o que nos remete à frase do outro português padeiro. Um amigo que vive do mercado financeiro nos Estados Unidos disse que só em 2010 as coisas começarão e estabilizar por lá. Analistas falam de dois a cinco anos para a crise. O certo é que a economia real continua. Os créditos acabaram, mas tem gente que guardou dinheiro e vai usar de forma cuidadosa. As pessoas têm que comer, beber, morar, vestir, curtir e espairecer desses problemas todos. É nas crises que surgem oportunidades insólitas. Enquanto uns choram outros fabricam lenços, ou em uma versão mais nova, enquanto uns olham para o passado, outros planejam o futuro, inclusive com planos B e C porque as previsões falham. É preciso recuperar o sentido da palavra previdente. Não é só o que prevê. É também cauteloso, cuidadoso, prevenido, prudente. E o que é prudente? Precavido, sensato, cordato, ponderado. Meu avô (o seu também, provavelmente) falava sobre isso. Ele tinha um pequeno açougue e nunca faliu ou se viu em enrascadas financeiras. Tampouco criou uma rede de frigoríficos globais ou abriu o IPO de sua pequena empresa, mas criou os filhos, viveu bem e morreu em paz no seu quarto, cercado pela família.

As últimas crises trouxeram ecos de antigos valores que ficaram sepultados pelo cinismo e ganância das eras das riquezas pretensamente fáceis. Jogaram a ética protestante no lixo, juntamente com outros valores consolidados. É tempo de ouvir menos os gurus da moda e mais os sábios que criaram riquezas duradouras.

* Luiz Gonzaga Godoi Trigo é escritor, pesquisador e professor associado à Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.

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