Embalo ou não, o fato é que as redes sociais, como o serviço de "microblogging" Twitter, estão cada vez mais populares no Brasil. No universo financeiro, as corretoras de valores têm se rendido ao fenômeno sob o argumento de ficar mais perto do cliente ou potenciais investidores. Na lista, destacam-se instituições ligadas a bancos e independentes, como Ágora, Itaú, XP, Spinelli, Gradual, Um Investimentos, Socopa e Link, para citar algumas. Entre os principais usos estão desde levar informação e divulgar eventos até mesmo recomendar aplicações.
A internet hoje é um dos principais canais de investimento em ações usados pelo público do varejo. Das quase 556 mil pessoas físicas cadastradas na bolsa em outubro, cerca de 249 mil usaram o "home broker", sistema de negociação on-line. Já o Twitter - uma espécie de servidor na web que permite aos usuários trocar mensagens de textos com até 140 caracteres - foi acessado por 9 milhões de pessoas no Brasil no mês passado, considerando apenas visitas ao site, aponta levantamento do Ibope Nielsen Online, empresa que pesquisa o comportamento dos usuários do meio digital.
Segundo o analista do Ibope, José Calazans, o número de usuários do Twitter em outubro representava 24% do total de internautas do país. Nos Estados Unidos, compara, menos de 10% dos internautas acessaram o microblog no mês passado. "Proporcionalmente, há mais gente navegando no Twitter no Brasil do que em qualquer outro lugar do mundo", afirma.
Pioneira no Twitter, a corretora Spinelli aderiu à ferramenta há cerca de um ano. Na rede, está presente com o InvestBolsa, seu "home broker". Na segunda-feira, por volta das 14 horas - detalhar o instante nesse caso é importante, uma vez que tudo muda muito rapidamente na internet -, ela contava com 3.079 seguidores, o maior número entre as corretoras que aderiram à nova onda. No universo de seguidores, conta Rodrigo Puga, responsável pelo InvestBolsa, estão não só clientes da casa como de instituições concorrentes, além de gente apenas interessada em conhecer mais sobre a bolsa.
No mundo real, contudo, a corretora ocupa o 13 º lugar no ranking dos maiores "home brokers" em volume de negócios e tem uma base de 14.726 clientes pessoa física. Mas se depender da estratégia para mídias sociais da Spinelli, ela tem totais condições de ganhar participação de mercado. A corretora está presente em diversas redes além do Twitter, como Orkut, Facebook e YouTube, com o objetivo de estreitar o relacionamento com investidores. O Twitter, no entanto, tem um atrativo a mais, na opinião de Puga. "Apesar de ser usado principalmente como um veículo de informações, a grande beleza da ferramenta é que ela é aberta e permite interagir com o seguidor em tempo real", diz.
Na Spinelli, há três pessoas dedicadas ao serviço. Segundo Puga, elas respondem perguntas, tiram dúvidas e eventualmente até ajudam a resolver problemas que clientes decidem tornar público no microblog. "Conseguimos melhorar nosso atendimento porque o tempo de resposta, quando há reclamações, diminuiu." Certa vez, conta Puga, um cliente que não estava conseguindo acessar o site da corretora teve seu problema solucionado em pouco tempo graças à troca de mensagens pelo Twitter.O foco, contudo, é a informação em tempo real. "Temos um Twitter que divulga notícias relevantes com a maior rapidez possível", diz Puga. Fora isso, são postados no microblog relatórios de analistas e recomendações de investimentos. Ele conta que, toda vez que um relatório de análise técnica (foco dos clientes da casa) é divulgado no Twitter, há um aumento no número de pessoas que acessam o site da corretora em busca de mais informações. O número de ordens de compra também tem um pequeno aumento, segundo Puga.
A Ágora é outra que enveredou pelo caminho das redes sociais. A ideia, conta o analista de comunicação da corretora, Ricardo Monteiro, surgiu em maio, com o objetivo de complementar os serviços já oferecidos por meio de canais digitais. "A Ágora é uma empresa de investimentos, mas muito ligada à internet", diz. Segundo Monteiro, o site da corretora é o principal veículo de comunicação com o cliente e o "home broker" da casa, líder de mercado - a corretora conta com 80 mil clientes pessoas físicas. No Twitter, a instituição tinha, na mesma segunda-feira, às 14h, 2.961 seguidores. Quando estreou na rede, em junho, a Ágora tinha como meta chegar a 2 mil usuários até o fim deste ano.
O conteúdo publicado no Twitter, informa Monteiro, é produzido com exclusividade. Há desde notícias até boletins diários com cotações de ações, moedas e índices de mercados, locais e internacionais. "Nosso objetivo no Twitter é levar informação, antes mesmo de atrair novos clientes", afirma. A estratégia vem dando certo, pelo menos em termos de aceitação. Segundo Monteiro, um volume grande de conteúdo publicado pela Ágora é passado para frente pelos seguidores - entre 10 e 15 citações por dia -, o que aumenta a visibilidade da corretora. Além disso, afirma ele, o Twitter tem servido para tirar dúvidas como taxa de corretagem, conta margem, entre outros.
Na corretora do Itaú Unibanco, que contava com 2.805 seguidores no Twitter no início da semana, o objetivo ao aderir à ferramenta foi ampliar as portas de entrada para a corretora. "Nossa proposta é se relacionar com o cliente usando o canal mais conveniente para ele", conta o diretor gerente do banco, Jean Sigrist. O Twitter, destaca o executivo, é uma forma de levar informação de mercado para o cliente de maneira rápida. A aceitação tem sido boa. "Temos registrado um percentual alto, acima de 50%, de repasse de nossas mensagens."
Na XP Investimentos, a estratégia é mais agressiva. Segundo o diretor de marketing da corretora, Bruno De Paoli, o uso do Twitter vai além da informação. "Esse é um canal muito eficiente para distribuir oportunidades de investimento; notícia todo mundo tem", diz. Com 2.505 seguidores acumulados desde junho, a corretora usa a ferramenta também para divulgar seus cursos de educação financeira e fazer promoções. Recentemente, a XP distribuiu calculadoras financeiras para os participantes de um curso divulgados no microblog.
Na Gradual, que contava com 507 seguidores, a principal função do Twitter é dar vazão ao que é publicado no blog da corretora, afirma Fernando Guimarães, responsável pela área de marketing. Isso inclui desde informação até alguma recomendação de compra de ações. "Todo mundo ainda está aprendendo a lidar com todas essas ferramentas e essa é uma tendência à medida que o mercado caminha para as negociações eletrônicas, com o crescimento do 'home broker'."
A Um Investimentos, com 183 seguidores, está começando agora a investir mais fortemente nas mídias sociais. "Estamos revendo nosso modelo de comunicação na internet", afirma o gerente comercial da corretora, Rafael Giovani. Na próxima segunda-feira, a Um vai lançar um blog, que vai alimentar automaticamente todas as outras redes sociais, como Twitter, Orkut, Facebook, entre outros. A ideia, conta Giovani, é usar esses canais para captar clientes. "Nossa disposição é comercial."