Quando se fala em sustentabilidade a maioria das pessoas se lembra de economizar energia, emitir menos dióxido de carbono, usar papel reciclado ou separar o lixo antes de colocar na calçada. Pouca relação se faz entre sustentabilidade e respeito às leis, uso responsável de máquinas e equipamentos que podem causar dano e morte, como automóveis ou motocicletas, ou mesmo o simples respeito a códigos pactuados pela sociedade, como o Código de Trânsito, Plano Diretor das cidades, Código Florestal ou Código de Direito Civil.
Uma sociedade começa a caminhar pela trilha da sustentabilidade não apenas quando reduz seus impactos sobre o meio ambiente, mas, também, quando deixa de ser necessário que milhares de policiais estejam nas ruas para garantir que as pessoas cumpram regras extremamente básicas, como respeitar faixas de pedestres, não estacionar em locais proibidos, respeitar limites de velocidade, parar em semáforos e antes da faixa etc. Ser uma sociedade desenvolvida requer das elites desta sociedade, justamente aquelas que detêm bens e propriedades, e são vetores de grandes impactos, para o bem ou para o mal, uma postura sustentável.
Me lembro quando ainda era adolescente, de um bom amigo que dizia: "Você pode fazer tudo, mas tem algumas coisas que não deve fazer". Pode-se pensar que esta frase vinha da boca de um adulto, mas não, o nome dele era Ricardo Faleiros, tinha a minha idade na época, 20 anos, e morreu porque um imbecil bêbado perdeu a direção do carro na estrada perto de Florianópolis.
Ricardo tinha outras pérolas de sabedoria. Uma delas pegava justamente na questão da inserção dos jovens no mercado de trabalho: "Todo mundo pede que a gente tenha experiência. Aos 20 anos isto é impossível, então, se perguntarem se você sabe fazer, responde que sim e sai correndo para aprender".Mas o que isso tem a ver com sustentabilidade e legalidade? Muita coisa, porque foi naquele tempo, segunda metade dos anos 70, que comecei a compreender a necessidade de trabalhar para fazer do futuro um bom lugar para se viver. A partir daí passei a observar que por trás de cada tragédia, "acidente" ou grande impacto social ou ambiental, existe sempre uma cadeia de ilegalidades que desemboca em merda.
Para ser uma sociedade sustentável o Brasil não precisa deixar de ser um país onde as pessoas são alegres. Precisa, sim, deixar de ser o lugar onde as pessoas acham que as coisas "são assim mesmo", onde a corrupção é vista como endêmica e incurável, e onde as elites "querem levar vantagem". Cada vez que vejo na rua uma infração de trânsito, ou um carrão estacionando em vaga de deficiente ou em local proibido ou inadequado, me pergunto qual é o poder deste ou desta motorista em outros setores da vida, porque se ignoramos leis básicas de convivência à vista das pessoas, o que não fazemos na vida privada ou fechado em escritórios acarpetados?
A trilha da sustentabilidade deve buscar eficiência energética, menor impacto ambiental das atividades econômicas, ações cotidianas de compromisso com um modelo de desenvolvimento baseado na inovação de tecnologias e mentes. No entanto, esta mesma trilha deve estar pavimentada pela legalidade de comportamento em todos os níveis. Não se constrói a sustentabilidade com jeitinho e quebra-galho, se constrói com respeito aos grandes pactos das sociedades democráticas, as leis.